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IN.SO.LEN.TE

Novo Banco, velhos problemas

... ou "como minar a confiança no Governo". Estive indecisa entre estes dois títulos, pois de momento parecem-me bastante análogos.

Há pouco mais de uma semana era notícia que "a gestão da pandemia da Covid-19 fez disparar a popularidade de António Costa entre os portugueses", mas bastou uma dita "falha de comunicação" no Governo para esta informação perder a atualidade rapidamente.

Se antes a gestão da crise pandémica dominava o espaço mediático, colocando os holofotes sobre os problemas na saúde e a luta do executivo para solucioná-los à pressão, o foco agora são os efeitos económicos do confinamento. A preocupação comum é o desemprego crescente, as empresas em dificuldade e os aumentos óbvios de pessoas sem dinheiro para comer. Perante isto dar dinheiro público a um banco problemático - quando ainda por cima há relatos de que empresários não conseguem aceder a créditos para face à crise - custa necessariamente a engolir.

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Mas terá este triste timing sido um mero acaso?

O dinheiro transferido esta semana para o Novo Banco pelo Fundo de Resolução (...) foi feito ao abrigo do mecanismo acordado na venda do Novo Banco à Lone Star (em 2017), pelo qual o Fundo de Resolução compensa o banco por perdas em ativos com que ficou na resolução do BES.

Portanto, e segundo este excerto de uma notícia do ECO, a transferência de 850 milhões para o Fundo de Resolução realizada há dias estava prevista no Orçamento de Estado. O mesmo disse o próprio Mário Centeno na entrevista que deu à TSF. Como explicar então a posição de António Costa relativamente a este assunto? Se não me choca que a informação da transferência não tivesse chegado ao Primeiro-Ministro a tempo do debate - por ter sido de um dia para o outro - choca-me que sejam mencionadas condicionantes ao empréstimo que aparentemente nunca existiram, visto que este está previsto há anos, mesmo sem a(s) auditoria(s) - que já agora ainda não ninguém percebeu bem se é singular ou plural. Como se não fosse suficiente ficamos ainda a saber que, apesar do Novo Banco dar prejuízo, continua a haver espaço para premiar gestores com dois milhões de euros (que o banco não tem).

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Gráfico: retirado de eco.sapo.pt

 

Como explicar a falta de razoabilidade de tudo isto?

Como dizê-lo a um pequeno empresário que vê o negócio morrer às mãos do covid e não recebe ajuda estatal? Que colocou trabalhadores em lay-off e ainda não viu chegar o apoio que lhe foi prometido? Que foi ao banco e não conseguiu obter crédito? 

Perante esta situação já suficientemente lamentável António Costa vem ainda afirmar, e cito:

“Queremos que os bancos sejam também exigentes na concessão do crédito porque o que se trata de viabilizar são empresas que são viáveis (…) e não propriamente alimentar empresas que vão custar amanhã dinheiro aos contribuintes“

Não é admissível. E é precisamente o tipo de coisa que lavra a terra para populistas virem plantar. As descrenças na democracia representativa nascem aqui, na falta de confiança nos Governos. Em momentos de crise como este, em que milhares de portugueses enfrentam grandes dificuldades e incertezas face ao futuro, a situação só se agrava. Muito mais do que um despique entre um Ministro das Finanças e um Primeiro-Ministro esta situação é uma flagrante falta de clareza e transparência.

Veja-se: hoje de manhã Mário Centeno culpou o Governo de Passos Coelho pelo que está a acontecer. Mais tarde, Marcelo Rebelo de Sousa disse que António Costa "esteve muito bem quando disse que fazia sentido que o Estado cumprisse as suas responsabilidades, se se conhecesse previamente a conclusão da auditoria". Já nem me quero pronunciar sobre a tentativa de Costa de desviar a atenção deste assunto - assumindo implicitamente apoio à recandidatura de Marcelo à Presidência - pois enquanto escrevo isto os deputados que discutem o assunto na Assembleia da República jogam ping-pong com as culpas partidárias deste buraco negro chamado Novo Banco (aos invés de sugerirem soluções). 

Está Mário Centeno a ser atirado aos lobos por algo que não decidiu sozinho? Houve uma desautorização de António Costa, ou um grave lapso na memória do Primeiro-Ministro? Porque fez ele uma promessa a Catarina Martins se sabia que não a podia cumprir? Há demasiadas perguntas e muito poucas respostas claras. Se já se sabia de antemão que a pandemia seria um terreno fértil para capitalização de erros por parte de oportunistas políticos, agora torna-se difícil arranjar argumentos para os combater...

 

 

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Sofia Craveiro. Jornalista por obra do acaso. Leitora e cronista nas horas vagas.

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